FLEC NÃO É O HAMAS, MAS CABINDA É COMO A PALESTINA

A FLEC não é o Hamas na sua filosofia de luta, mas Cabinda é como a Palestina, um território sob ocupação estrangeira. Faço esta afirmação em resposta às declarações do general angolano Carlos Chivunda, proferidas em Cabinda há dois dias durante as jornadas comemorativas das FAA, tendo como pano de fundo as tensões da guerra entre o Hamas e o exército israelita.

Por Osvaldo Franque Buela (*)

O general exortou as tropas das FAA baseadas em Cabinda a permanecerem vigilantes e a frustrarem quaisquer tentativas da FLEC de desestabilizar o Estado, na sua visão de apresentar a FLEC como um grupo terrorista quando não aparece em nenhuma lista de movimentos terroristas seja do lado da ONU ou do lado da União Europeia.

Nestes tempos de crise e de guerra entre a Ucrânia e a Rússia, o Hamas e Israel, Angola tem o dever de ter em consideração as exigências dos Cabindas que sempre apelaram a um diálogo franco e inclusivo para a resolução do conflito territorial, porque a FLEC, como movimento de resistência armada, nunca atacou civis angolanos, e nunca se deslocou para território angolano para cometer ataques contra as populações civis angolanas como faz o Hamas, métodos que condeno energicamente tendo em conta os últimos acontecimentos em curso no Médio Oriente, precisamente em Israel.

O povo de Cabinda que luta há mais de 60 anos pelo seu direito à autodeterminação acabará por obter o seu direito à dignidade, à sua soberania e à sua plena liberdade, não sei quando nem como mas acabará por acontecer mesmo se hoje as elites políticas e intelectuais de Cabinda, através do seu egoísmo e imaturidade política, constituem parte dos obstáculos à realização deste sonho de liberdade.

Digo-o com tanta força que somos parcialmente responsáveis pelos nossos fracassos políticos, porque depois de tantos anos de luta, depois de tantos anos depois da assinatura do memorando do Namibe e da criação do Fórum Cabindense para o Diálogo, não somos capazes de traçar uma verdadeira estratégia de luta capaz de devolver substância credível às nossas formas de luta em coesão e unidade.

Os cabindas podem juntar-se em massa ao MPLA, à UNITA e a outros partidos políticos angolanos, a solução só passará pela nossa coesão e unidade, na abordagem da reflexão comum, e finalmente na conjugação dos meios de luta.

Face à actual situação em Israel, o primeiro-ministro lançou o apelo à constituição de um governo de unidade para coordenar adequadamente as acções contra o Hamas, deixando de lado todas as formas de adversidade política, então porque é que num pequeno território como Cabinda, um pequeno número de os indivíduos podem monopolizar sozinhos a luta de todo um povo através da radicalização e dispersão das forças políticas presentes, através da exclusão de todos aqueles que não pensam como eles?

Porque é que Alexandre Tati, Emmanuel Nzita, Afonso Massanga, Belchior Lanso Tati, António Bento Bembe, Rodrigues Mingas, Arão Tempo, Zenga Mambo e os outros não se juntam para pensar Cabinda?

Peço desculpas por citar os nomes, mas como são os que mais se destacam como dirigentes de movimentos políticos, tomei a liberdade de fazê-lo para que saibam que não os julgo culpados, mas a história olha para eles e o tempo não perdoam, se não medirem o tempo e não fizerem uma boa leitura do contexto político global que atravessamos. Cabinda continuará na miséria e no subdesenvolvimento e Angola continuará a sufocar o problema de Cabinda com dinheiro que vem em grande parte dos recursos do nosso território.

O tempo passa, os homens passam, mas Cabinda vai ficar, mas em que situação deixaremos este território nas mãos das gerações futuras e o que elas vão lembrar do que fizemos?

Na maioria das vezes os erros partem sempre de quem se considera infalível e superior, mas só é derrotado quem deixa de lutar, como costuma dizer meu amigo Orlando Castro.

(*) Refugiado político na França

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